29 de fevereiro de 2012

espelhos meus, espelhos meus

há os espelhos do mundo e depois há os (meus) espelhos. os (meus) espelhos são das coisas mais importantes das nossas vidas. os (meus) espelhos não são aqueles objectos que a gente, hoje em dia, tanto usa antes de sair de casa. eles não se partem assim tão facilmente mas, se partirem, podem de facto dar azar. os (meus) espelhos são o mundo que nos rodeia. são a luz do dia, o sorriso por desvendar, o olhar de um ser. os (meus) espelhos são as palavras dos amigos, dos menos-amigos, da mãe e do senhor do café. são o dia anterior, as opções do namorado, a medida das calças mais bonitas da loja. os (meus) espelhos são os livros que decidimos ler, a música que escolhemos ouvir, a chuva na janela. são também a estação do ano e o domingo à noite. há que ter atenção, por mais que pareça, não somos nós que procuramos os (meus) espelhos, são eles que nos encontram e, quando tal acontece, existe naturalmente um efeito: podemos mudarmo-nos, podemos achar que está óptimo assim, ou outras opções mais. a questão não é o que se faz quando um espelho (meu) nos encontra. a questão é o porquê de o fazermos. aí, se pensado, se digerido, mais que um penteado ou uma cor nova de batom, vemos o reflexo da alma.

27 de fevereiro de 2012

jam jokes

i break things, i just do


i make them, one after another
(they just keep on getting better)
then i break then
not for pleasure
not with pain
but because they are things
and i get attached to them
so i break them
i hold them as if i'd never let go, then i remember 
it isn't perfect, i'm attached,
so i open my hands, gently
and see it fall, in slow motion
for it to break piece by peace, peace by piece
it hurts as much as it reliefs
so it's all and nothing, they'd say 
i'd say it depends on the day
with me, it always depends
(and that's always the problem)




... now break this in two, as i'd do
(show me the result)

26 de fevereiro de 2012

Globo do mar

Algures no Rio Amazonas crepuscular:


Eco: "Que sorte a minha."
Lo: "Que sorte ser a sorte de alguém."




A vida é uma perspectiva. A felicidade é simples.

17 de fevereiro de 2012

Eu nunca estive compro-metida

Haverá pior descrição de um estado de vida que: "estar comprometido"? "Estou comprometido"?! Mas quem, no seu perfeito juízo, foi chamar o acto de amar-uma-pessoa-e-não-ter-olhos-para-mais-ninguém-naquele-momento "estar comprometido"? Quem foi inventar um mundo de casamento e de obrigação, de papelada e "algemas", ou mesmo só "comprometimento", para que um verdadeiro amor se consumasse? (Talvez seja mais para que se consuma, porque de facto é isso que faz um "compromisso": consome.)

Comprometidos devemos ficar sempre que mentimos a alguém.

Além disso,

É preciso não amar nem ser amado para criar uma aberração destas e aculturá-a. É preciso não saber que o coração é Livre, é Enorme, e o seu Amor, infinito. É preciso não segurar vidas num abraço de olhos fechados, vidas várias de seguida, e sentir aquele despertar, aquelas cócegas que fazem sorrir de overdose de sentir, em cada apertar, em todos eles. Seja amor, seja vontade, que importa? Se tudo fizer parte do sentir, então tudo é verdadeiro, tudo é válido e merecedor de existir na luz do dia e nela brilhar.

Eu não sei quem foi dizer que ter um amor invalida ter outros, ou ter paixões, ou vontades que sejam. Não é assim. A verdade é que não somos assim. Não para uma vida. Acordemos. Larguemos a hipocrisia por amor de Deus. Larguemos essa ideia aberrante, artificial, de algemar dois pulsos entre paredes e chamar a isso de amor verdadeiro. Isso não é verdadeiro, isso é artificial. Amemos tudo, de todas as maneiras. Tudo o que merece, tudo o que sentimos amar. Beijemos quem queremos beijar. E, com um amor, ou vários, com um desejo, ou vários, sejamos, acima de tudo, Livres e Transparentes. Felizes!

14 de fevereiro de 2012

acon-chego-me

Estou a beijar-te agora.

Daqueles longos beijos
Nas curtas noites-aurora.

Naquela bolha nossa
Estendida ao mundo,
Amor de criança.

Estou a beijar-te tudo.

Desde os teus lábios meus
Até esse olhar desnudo.

Estamos naquele quarto delícia
Que nos viu nascer
Carícia a carícia.

(Apontas-me o infinito e eu vejo-o)

Estão em mim os teus dedos
Que um mundo criam
E me desenham segredos.

Começam nos cabelos
E continuam-me sem cessar...

Guardo-os no corpo, livres como ar.

Talvez um dia te deixe, 
Te afaste, te morda, 
Te obrigue a sumir.
Mas hoje, amor,
Não há mais que o sentir
Do teu peito meu 
Onde agora vou dormir.

6 de fevereiro de 2012

Uni-verso II

Somos o Universo que sonhamos visitar.

5 de fevereiro de 2012

Nasc(r)ente

Era uma estação de metro em Buenos Aires. Uma estação imitando as antigas, de paredes em azulejo que faziam imaginar sons de ferro, cheiro de fumo. Só as televisões nos acordavam para este século, mas ela não queria saber das televisões. Sempre via a sua vida como um filme, tão belo, tão intenso, tão dramático, que tinha de olhar da cadeira, muitas vezes, sair do palco para ver melhor. Para descansar da sua inquietude, da sua mente criadora e turbulenta. Os seus olhos eram castanhos-luz, a sua pele castanho-irrepreensível, os seus cabelos castanho-vento. Era só mais um dia em que ela se esqueceria de agradecer a Deus a benção que é cada segundo, mas isso não lhe mudava a gratidão, os olhos fechados em sorriso.

Era uma estação de metro em Buenos Aires. Velha, riscada. Poluída pela imagens fast-life e também por algumas pessoas. Ele não queria saber da estação. Sempre entrava como quem sobre um degrau que leva ao lugar. Os lugares dele eram longe de tudo, mesmo à distância de uma estação. A sua vida era tão obscura, subsersiva, mística, que as luzes fluorescentes daquela estação o faziam não existir... Mas os seus olhos eram castanho-terra, a sua pele castanho-sol, os seus cabelos castanho-selvagem. Era só mais um dia que ele, propositadamente, não agradecia ao seu Deus: nenhuma das suas perguntas tinha resposta.

Em lados opostos, desceram as escadas, acelerados por um som de fundo que adivinhava uma estadia rápida naquele submundo. Corriam e pediam que fosse do seu lado. A chegada ao vão foi simultânea, o que os fixou. Foi imediato: os olhos, os ombros, as pernas, os pés, tudo se beijava - paralelas-mentes. Nunca se tinham visto mas tinham já a sua bolha. Os pensamentos igualaram-se e eles sabiam-no ("eu quero", "eu preciso", "eu não vejo mais nada"). Queriam-se tudo. Não se largaram até o metro aparecer, no lado dele. Ela sonhou que ele não subia e ele permaneceu imóvel, olhando-a por entre as janelas do metro. Chegou o metro dela e ela entrou no desassossego de onde sempre tentava fugir. Quando o aviso das portas a fechar disparou ela voltou ao mundo-matrix e entrou quase que por impulso, quase como quem corre para a pílula azul e não pensa mais nisso. Arrependeu-se ao mesmo tempo que as portas se fecharam.




Assim que ela entrou no metro soube que teria de vê-lo uma vez mais que fosse, a sua mente desassogava-se agora com a ideia de cair nos seus braços. Esperaria por ele na estação seguinte. Esperaria um metro e, se ele não aparecesse, voltaria atrás. O metro que a seguia chegou vazio, e aí ela entrou no metro que regressaria à estação que já era a deles, esperançosa.


O metro partiu e ele ficou imóvel, intenso para dentro. Ele sabia que ela tinha partido arrependida e por isso saiu em corrida pela estação até ao lado dela, segui-la-ia, ela estaria à sua espera. Perdeu um metro mas entrou em corrida no seguinte, como quem corre para os braços de alguém. Não (ha)via mais nada a não ser os seus olhos.

Quando ele chegou à estação, desesperou. Concluiu que ela seguiu caminho e que o melhor era fazer o mesmo. Apanhou o metro no lado oposto e sentou-se, vazio. Mais perguntas, mais silêncio de volta. Estava criando nós de marinheiro em si mesmo quando chegou à estação onde a tivera visto. Ela não estava em lugar algum. Encostou a cabeça ao vidro e pensou que o metro esperara demasiado tempo. Pensou depois que era de uma cigarro e uns minutos de digestão emocional que precisava. Num impulso pulou metro fora e subiu as escadas enquanto teve a sua prmeira resposta: o metro esperara demais para que tivesse a certeza.

Chegada à estação ela sentiu-se ridícula. Ele não estava. Esperou um metro e nada. Quis esquecer, era melhor regressar ao seu caminho. Subiu as escadas para a rua e só o sinal vermelho do cruzamento a fez parar. Ele não lhe saia da cabeça e ela só pensava que aquele vermelho demorava por alguma razão: o Universo sempre tem as suas razões.

No último degrau acendeu o cigarro e olhou para mundo. Ela estava no seu mundo. Não pensou mais, não havia cor, matéria, tempo, que o parasse. Correu para ela. Ela viu-o, em exultação correu para ele.

Deixou de haver exterior. Nesse dia provocaram 5 acidentes, caos metropolitano e uma menina chamada Vega.