27 de novembro de 2011

diz sol ver se

O sol é belo também quando não se vê. Sempre. Profundamente. É-o nas nuvens, nos corpos, antes de acordar, depois de adormecer. É belo porque não nos existe sempre. É belo porque se estende e se prolonga pela matéria fazendo-a brilhar. Porque, e talvez acima de tudo, dá incondicionalmente. Se a matéria é bela é porque o sol o permite. É uma comunhão que não esqueço, que ninguém pode esquecer, tanto em relação ao sol, como em relação aos nossos mundos, físicos e afins. A beleza não está no que vemos quando se olha. Ela encontra-se quando, e onde, se Vê. Aí sim é infinito e constante, como é a verdadeira beleza. Não vale muito a pena procurar "belezas" que não esta. Até porque também nós podemos e devemos ser belos assim.

18 de novembro de 2011

Casse-Tête Personnel

Lorina de Carvalho Ventura

Atiro-me ao infinito quando penso em descrever-me, e sempre desisto (suponho que seja assim com todos). No entanto, olho para o meu nome completo (sendo 'meu' e 'completo' palavras que dizem muito desde já), e vejo que ele traz em si o que posso ser, infinitamente.

Basta brincar aos parêntesis e às metáforas como se brinca aos pais e às mães.
Confuso, talvez. Eu, portanto.
Divirtam-se.

12 de novembro de 2011

sur - realismo

as minhas raízes, o meu sangue, o que amo
os meus, as minhas, o nosso
o que deixei, o que não quis trazer
as ruas que me conhecem os passos
os dedos que me têm os cabelos
os lábios que me chamam o abraço
as cores dos olhos que me querem
o calor desumano
as humanas mentes
tu,
tu,
e tu, 
tum-tum, tum-tum, tum-tum

o que amo é um quadro
ao longe vejo-o tão melhor

10 de novembro de 2011

chil(l)e

acho que os prédios de Santiago não crescerão mais: de que forma se veriam montanhas no fundo de cada rua?

9 de novembro de 2011

elevarte

não tens de, nem deves, procurar os calcanhares de ninguém: eleva os teus e beijarás a lua

5 de novembro de 2011

se-credo

Todos os segredos são bons segredos. Óptimos. Não conheci ainda um segredo que não o fosse. Todos os segredos carregam em si pelo menos 3 das 7 maravilhas da vida: sabedoria, mistério e sensualidade. Saber algo que a maioria não sabe é ter em si um poder subversivo, belo, intenso. Segredá-lo em público também. Por isso, a mestria das regras, do dever e não dever, assumiu que não se deve nunca "dizer segredos à frente dos outros" ("é feio"), tal como não se deve usar decotes.

Contar um segredo ou ouvir um segredo deve ser dos actos mais excitantes que a socialização humana tem para dar: os corpos aproximam-se, exaltam-se com o interdito, o coração acelera e expressa-se nos lábios em ligeiro sorriso - mesmo antes de se saber - os ombros encostam-se, os lábios procuram a melhor orelha e, devagarinho, doucement, para ninguém ouvir, soltam as palavras-mistério, que "não podes contar a ninguém" num tom de voz que se assemelha aos que ouvimos nas conversas entre Gainsbourg e Bardot...

Sensualidade suprema, soberba.

Não conheci ainda ninguém que não gostasse de segredos. Nas mãos da sociedade, os segredos são como que Mulheres que todos desdenham, mas todos lhes seguem os passos que nem um bom cãozinho. É incrível. É incrível a relação do mundo com este doce-proibido. O segredo é vício e, como todo o bom vício, é imoral e(i) mortal, sendo esta mais uma razão para a sua extrema sensualidade. Todos desejam saber e ninguém pode, ou devia: intenso. Todo e qualquer um, tem segredos profundos que o mundo, se soubesse florescia-se todo, e isso é uma delícia. Andar de metro e pensar que naquela carruagem dava para fazer uma competição de quem guarda os segredos mais rubros: delícia. As horas de ponta seriam um prazer.

A vida secreta tem muito mais piada.

Todos os segredos são bons segredos porque mostram o ser humano como ele é, na sua integridade ou ausência dela, no seu egoísmo ou altruísmo, na sua intensidade ou vida cinza. São bons porque fazem vir à superfície a curiosidade pura, sentimento que faz o mundo girar, crescer. São bons porque mandam nações abaixo, fazem crescer amores eternos e nunca erguem nações que não o são nem destroem amores verdadeiros. São bons porque são um encanto palpitante desde o colégio até à tarde de jogo de cartas com os amigos de há 50 anos. Desde debaixo dos lençóis à conversa inesperada com um desconhecido em língua estrangeira. Desde os meus lábios à tua orelha. "Shh... Não contes a ninguém..."

2 de novembro de 2011

seguindo-se

para ti, sem te tocar, sem beijar, sem amar como amo e não sabes. sem ver como vejo e não vês. sem beijar as mãos que leio, sem morder os olhos que desejo. Homem meu, luz minha, pensamento errante, incessante. ser que fascina. vejo-te todos os dias, ainda. descubro-te a pele, destapo-a, como-a, faço dela minha. sorvo-te o cheiro para esquecer. seguro-te pela alma e levo-te para casa, para te adormecer. um dia levo-te para o mundo, ou o mundo leva-nos ao colo. um dia ficamos numa mesa de vinho lá no topo, naquele lugar que nos pertence. um dia conto-te tudo isto ao ouvido e fujo a sete pés.