Todos os segredos são bons segredos. Óptimos. Não conheci ainda um segredo que não o fosse. Todos os segredos carregam em si pelo menos 3 das 7 maravilhas da vida: sabedoria, mistério e sensualidade. Saber algo que a maioria não sabe é ter em si um poder subversivo, belo, intenso. Segredá-lo em público também. Por isso, a mestria das regras, do dever e não dever, assumiu que não se deve nunca "dizer segredos à frente dos outros" ("é feio"), tal como não se deve usar decotes.
Contar um segredo ou ouvir um segredo deve ser dos actos mais excitantes que a socialização humana tem para dar: os corpos aproximam-se, exaltam-se com o interdito, o coração acelera e expressa-se nos lábios em ligeiro sorriso - mesmo antes de se saber - os ombros encostam-se, os lábios procuram a melhor orelha e, devagarinho, doucement, para ninguém ouvir, soltam as palavras-mistério, que "não podes contar a ninguém" num tom de voz que se assemelha aos que ouvimos nas conversas entre Gainsbourg e Bardot...
Sensualidade suprema, soberba.
Não conheci ainda ninguém que não gostasse de segredos. Nas mãos da sociedade, os segredos são como que Mulheres que todos desdenham, mas todos lhes seguem os passos que nem um bom cãozinho. É incrível. É incrível a relação do mundo com este doce-proibido. O segredo é vício e, como todo o bom vício, é imoral e(i) mortal, sendo esta mais uma razão para a sua extrema sensualidade. Todos desejam saber e ninguém pode, ou devia: intenso. Todo e qualquer um, tem segredos profundos que o mundo, se soubesse florescia-se todo, e isso é uma delícia. Andar de metro e pensar que naquela carruagem dava para fazer uma competição de quem guarda os segredos mais rubros: delícia. As horas de ponta seriam um prazer.
A vida secreta tem muito mais piada.
Todos os segredos são bons segredos porque mostram o ser humano como ele é, na sua integridade ou ausência dela, no seu egoísmo ou altruísmo, na sua intensidade ou vida cinza. São bons porque fazem vir à superfície a curiosidade pura, sentimento que faz o mundo girar, crescer. São bons porque mandam nações abaixo, fazem crescer amores eternos e nunca erguem nações que não o são nem destroem amores verdadeiros. São bons porque são um encanto palpitante desde o colégio até à tarde de jogo de cartas com os amigos de há 50 anos. Desde debaixo dos lençóis à conversa inesperada com um desconhecido em língua estrangeira. Desde os meus lábios à tua orelha. "Shh... Não contes a ninguém..."
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tem vontade própria