11 de novembro de 2012

compras-te

Olha-me para eles. Caminham lento olhando a lentidão dos passos dos preços que não vão nunca descer a rua. Mas parece-lhes tanto. 

Olha para eles perdidos no caminho em frente.

Esvaziam a carteira esperando que se preencha o vazio que não os deixa olhar o espelho de frente há já muito tempo. Tempo esse que, ao sobrar, não se preenche com perguntas mas sim com monitores de diferente tamanhos. 

Haviam de ver o tamanho dos monitores aqui.

Olha para eles "só a ver", agarrando com um alimento de plástico que lhes é vendido como o suprassumo nutritivo. Olha-os a acreditar. Olha-os com os filhos ao colo num fim-de-semana solarengo enquanto escolhem uns ténis de outdoor... que nunca conhecerão a lama, a terra, as raízes ou as rochas salgadas. 

Olha-os a sonhar com eternos pores-do-sol enquanto lhes é passado o multibanco... e o sol se põe lá fora.

Vê bem. Vê bem enquanto dizem que vão pensar imaginando que pensam alguma coisa.

Peço desculpa, mas daqui vejo-os todos. Talvez porque outrora vi horizontes sem fim. Hoje estamos aqui, eu a amazónia aprisionadas em vasos, nas paredes, protegidas por um tecto que não pedimos.

Por isso...

Olho-os iludidos com a promessa de que aquela frase da t-shirt é a resposta para as perguntas que não saem. Olho os filhos deles enquanto o aprendem. Às vezes parece que o medidor de altura dos parques de estacionamento subterrâneos corta-lhes parte da alma quando passam. 

Assim... 

Olho-os de mãos nos bolsos, deixando no ar o melhor perfume que tinham em casa. Olho-os a seguir "tendências". Dependências, exigências. Olho-os de diferentes cores e só vejo cinzento. Vejo-os a sorrir encontrando a dor. 

Saldos, descontos, percentagem, alucinação. E pela carteira morre a nação.

Sem comentários:

Enviar um comentário

tem vontade própria