"Eu sou humano", diz o homem para expressar uma desculpa, uma piada, uma característica positiva. O homem criou este adjectivo que supostamente soa bem, faz de um Ser alguma coisa mas eu caminho na rua e vejo Animais atropelados, abandonados, presos, em sofrimento, maltrados, em jaulas, usados... E cresce em mim uma dor, uma raiva mesmo (daquelas sem vacina). Faz-me querer atacar, morder, matar mesmo. Era isso que fazia.
Que me prendam, mas eu mataria quem faz sofrer.
Acho mórbido o facto de, no senso comum, ser "humano" ser uma coisa boa e ser "animal" um insulto.
Ser humano (hoje, para mim) é olhar para a sua raça e torná-la um adjectivo, ser Humano é ser pretencioso, egoísta, mesquinho, sujo. Eu quero ser um Animal, esquecendo aquela parvoíce que as pessoas dizem levianamente, de sorriso oco na face "Eu sou um animal, racional!". Par de estalos na cara. Patadas, digo, garras de fora.
Eu quero ser um Animal sem jaula, que ama, sente, que fala só para quem compreende. Não quero ser uma porra de um animal racional. Quem inventou essa desculpa para se achar o maior deveria passar uma vida na Amazónia, nas áreas onde o homem racional corta árvores e cria incêncios (inspiro, expiro). O animal racional é aquele que agarrou na Terra e fez dela sangue para a sanguessuga.
Fossemos todos uma "cambada de Animais" e o Universo era bem mais feliz. Nós éramos bem mais felizes.
Foi-nos dado tanto... Tantos dons, não aqueles de tocar piano aos 3 anos, mas aqueles que nos permitem amar, criar, explorar, falar, compreender, evoluir... Acho que nos faltou um dos dons mais importantes, o da sintonia. Ou então perdêmo-lo com o tempo, com as armas, com as paredes a erguerem-se, com o dinheiro, com o betão e o cimento, com a religião... Como quer que tenha sido é obrigatório recuperá-lo. É obrigatório ligarmo-nos ao mundo sem cabos, sem redes, sem fichas, só com Alma e Coração.