11 de agosto de 2012

Tão longe



Portugal está tão longe. Tudo aqui me faz sentir que tudo está tão longe. Esta bolha quente de diversas cores e paisagens de gelo e sol na face. E o resto tão longe. O Atlântico, o peito da minha avó, as estórias do meu avô. Os vermelhos, azuis e verdes berrante dos tecidos fazem perceber que o cinza das lágrimas estão numa distância que não se sente já. A voz da minha mãe, as longitudes do meu pai. Longe. A fortaleza da minha tia, a ternura da minha prima. Longe. Longe os amores, longe as dores e mais que longe a sua saudade. Até a saudade… Os olhos negro-rasgado-de-sorrir afastam as gargalhadas dos amigos. Estão simplesmente longe, como os bairros, as ruas, a noite. E a música? Parece que não sei mais. Ficou em mim o fado que canto bem alto para que oiçam lá. Mas não se ouve… Longe os despertares no Algarve, o meu nome sem erros, o caminho para casa. Longe, longe! As horas, os minutos. Aqui há o sol. Tão longe as confissões das minhas amigas-irmãs e os seus abraços. O calor de acordar no meu quarto e o frio da gravidade do estado, do estado das greves, das grandes estradas, dos estrados de madeira que nos mostravam o caminho para o mar. Aqui descobri que não existem caminhos únicos, nunca, para nada! Principalmente para o mar ou para o futuro. Que longe a pressa e as roupas. Que longe os que tentaram habitar a minha vida sem sucesso. Que longe, que longe!! E que perto o amor. A sua luz, claridade no caminho. Que boas as cócegas da incerteza. Tão perto a felicidade como final e a gargalhada de sabê-la um caminho. Tão perto que oiço o coração da minha avó e conto as estórias do meu avô. Tão perto que respondo à minha mãe, sei do meu pai, descanso na minha tia, abraço a minha prima. Tão aqui que faço os meus amigos rirem à gargalhada e as minhas irmãs não deixarem nada por contar. Tão perto, tão, tão perto que quase parece que não preciso de nada mais. 

Quase.

2 comentários:

  1. A dança dos teus dedos, a quente dança dos teus dedos.

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  2. Nao há caminhos únicos para o mar e pro futuro, nem longe nem distância como me disse uma vez, emocionante, que vida que vida que vida!

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tem vontade própria