12 de outubro de 2011

cuidado

I.
Sonho. Vou para os teus lugares e sonho contigo. Sonho que apareces repentinamente e sem olhar para trás, sem desperdiçar palavras, agarras-me pelos ombros. Com essas mãos de homem suave, puxas-me. Com esses lábios lentos de outras terras, beijas-me (sem planos, com desejo). Com esses dedos de piano, tocas-me. Com essa língua silenciosa, saboreias-me. Em ânsia os teus longos braços provocam a minha cintura e o meu corpo todo obedece. O teu corpo todo sabe que o meu corpo todo lhe obedece. Encostas-me à parede, para não fugir mais. "Eu não fujo mais", digo enquanto me mordes em castigo. Mas é um sonho. E tu acabaste de aparecer.

II.
Frente a frente. Numa mesa no centro do mundo, eles sorriem-se. Elegantes, perfumados. Olham-se nuns olhos em brilho que arrepia qualquer ser com lobo pré-frontal. Demoram-se um no outro. Estão de mãos dadas por cima da mesa, mas quase que já nem existe mesa. Só ele nela, só ela nele. Mais sorrisos. Mais olhares-delícia. Ele ri, ela sorri e olha para baixo em gesto de embaraço - tão feminino que enamora qualquer um. Ela tira as suas mãos das dele, em brincadeira, para que ele as chame. E ele chama-as (ele É chama) uma, duas, três vezes. Quem vê de fora sabe que ele chamaria as vezes que fossem precisas. É assim o Homem que Ama e só quem Ama é Homem assim. À terceira vez ela deu as mãos, todas. Deu tudo. "Pôs tudo na mesa". É assim a Mulher (toda a Mulher Ama)... Mas nem todo o homem está preparado para Isso. Ele está, tão bem. Agarra-lhe as mãos como se de uma oferenda sagrada se tratasse (e trata-se). Sem tirar os olhos dos olhos dela, sorri. O Universo pare extrelas extra na presença de um Amor assim... Agora partilham um chá. Os olhos continuam nos olhos e não se calam, é lindo de se ver. Tudo isto me faz sentir venturosa por aqui estar, mas o que me deixa humilde, de lágrimas nos olhos, é ver-lhes à distância os cabelos brancos, as rugas que há muito que não são de expressão, o verdadeiro amor eterno. E assim eles partem, juntos, passada igual para a próxima saga. E eu... Eu hoje já só me fico.

1 comentário:

  1. Neste mundo a 300 à hora já não há muitas coisas que nos atem a atenção, pés e mãos, mas acho que li estas duas folhas de papel 17.890 vezes seguidas sem pestanejar. Fiquei com os olhos um bocadito vermelhos, mas valeu a pena.

    Isto faria parar guerras. Imagino soldados cansados, sentados, com uma folha de papel no colo, a ler-te. A ler fogo, o teu lume*

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tem vontade própria