22 de agosto de 2012

à Professora Luísa e ao erro

(há uns aninhos também)

Adorava quando a Professora Luísa apagava o meu caderno. A sensação desse momento fazia-me acreditar que o mundo era assim. Cometia o erro pela idade, por distracção como sempre foi; por vontade e preguiça porque nunca o deixou de ser, e ela, alta mas nunca altiva, consciente, paciente, ciente do turbilhão que me assaltava a cabeça (até hoje), aproximava-se, pegava na borracha verde que ainda hoje lhe sinto o cheiro, mão esquerda (cuidada, unhas vermelhas, muito ouro) no caderno, e mão direita certeira, confiante, dourado tilintante. Num ápice tudo desaparecia, como que por magia. Era a nova oportunidade que se avistava, que me era dada enquanto eu, sentada direita e minúscula naquela pequena cadeira, me deixava ficar, protegida do mundo e arredores, no meu conforto de madeira perfumada e lápis de cor. Nunca deixei de olhar-lhe as mãos, enquanto ela me limpava o erro, sim, me limpava o erro, nunca deixei de agradecer também.

Há dias, hoje especialmente, em que sinto muitas saudades dela e da minha borracha.

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