Desta vez é um livro que quero escrever.
O facto de estar a começá-lo no bar da minha faculdade, onde era suposto estudar ou, pelo menos, estar rodeada de amigos, é capaz de mostrar a excelente capacidade de encaixe que tenho.
Acontece que à minha volta está um verde fluorescente tão forte e "des-fenomenal" que parece não existitir mais nada. Tudo está barulhento: desde os pequenos jogadores de futebol ironicamente agarrados a matrecos de "cinquenta euros" até ao Renato. O meu amigo Renato. Aqui na cadeira do meu lado esquerdo, já que noutra cadeira sei que nunca se sentaria. Encontra-se num silêncio tão grande e pesado, tão rápido nos dedos e nas suas ideias que bem poderia incendiar este bar e matar os sobreviventes para relaxar "um pouco" mas não lhe seria suficiente. De qualquer das formas sei que nem o tentará por uma razão: o seu seminário tem de ser apresentado em15 minutos.
No fundo este é um dia como os outros, só não tinha visto antes este verde fluorescente, o que poderia ser uma bonita metáfora para muitos mas não é: a faculdade esteve em obras e eu também.
Entretanto a faculdade já não está.
Passa uma barriga de cerveja e churrascada de uns 40 anos de existência e e eu penso: que interessará isto?
A minha escrita é um magnífico ultraje. Principalmente porque aquela barriga me interessa e eu deixo isso transparecer. Aquela barriga fez-me pensar no nosso tempo de vida e no que fazemos com ele. Concluindo sobre o quão ridícula sou por não saber existir. Aquela barriga.
Alivia-me o facto de estar a bater-me nos olhos uma expressão de ciúme de um dos pequenos jogadores, porque eu estava, pelos vistos, a sorrir para a equipa adversária. O meu prazer no seu ciúme faz-me esquecer todo o resto e perceber, feliz, que afinal não cresci.
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